Sou mulher, e fiz-me ao mar
Ao mar, que é mundo dos homens
aprendi a mergulhar
nas redes, pra não ter fome
Fiz-me às artes em segredo
às artes de marear
Com temor, mas sem ter medo
pus-me à proa
e fiz-me ao mar
Já não me quedo na praia
esperando o atracar
não choro em barra de saia
ondas de negro pesar
Sou mulher, passei a barra
de areias, em todo o algar
Já fui fauna e fui sereia,
santa posta num altar
sendo giesta, flor da maia
pus-me ao leme
e fiz-me ao mar…
31/03/2014
Mavilde Lobo Costa
Contigo
Fui dançar ao parlamento
a dança pra fazer calar a fome
Contigo expurguei todo o lamento
dum país que de morto, mal consome
Contigo meu irmão, gritei ao vento
palavras que na crise têm nome
Contigo o desemprego é um tormento
carregado no povo que não come
Contigo a pobreza já aumenta
vergonha de gente trabalhadora
que à míngua a sua vida acalenta
Contigo política opressora
roubas com malícia quem te sustenta
pra servir essa troica e vil senhora.
17/12/2012
Mavilde Lobo Costa
Tirado da net
Ode ao rio Douro
Meu rio Douro
chão de licor onde me deito
rio sedutor do meu deleite
que me afaga em caminhos de ternura
e embala a memória, da verdura dos meus anos
Minha estação do Pinhão
de chegadas e partidas
de azáfamas comedidas
porta de derivação,
onda redonda
de aventuras e regresso
com ou sem sucesso
em muitas vidas
Azulejos azuis de apreensão
com zelosos caminhos de suor e de fadiga
onde medito
Lugar aberto ao mundo em carris de água,
e comboios com apito
E nas margens seguem rumos de beleza
entre quintas rendilhadas de socalcos
Esses montes, encobertos sem ter fim
são adornos de surpresa, em saltos-altos
20/08/09
Mavilde Lobo Costa
Que vício!
Enrola-se toda a vida num cigarro
Vício, onde encurta e enrola a vida.
Que prazer! Ai que prazer me dá fumá-lo
em espirais, onde o café é a bebida.
E penetro nesse fumo alheado
Numa cisma que me invade o pensamento
E levito no carvão já viciado
Em nicotina, que os pulmões já têm dentro
Tudo vejo num olhar enublado
refúgio onde a limpidez tortura a vida
Tremem as mãos a enrolar novo cigarro
que não tem fim esta atitude compulsiva
A boca pede, a mão fabrica este veneno
Que o ar polui,
tudo destrói
E alguém enrica
17/12/2011
Mavilde Lobo Costa
Foz do Lisandro
Calou junto à foz disfarçado desvio
o leito do rio que de areias secou
Tem margens sem vida que o calor já crestou
melancólicos sonhos ao poeta infligiu
Viraram-lhe a rota noutra direcção
pra dentro da praia em banhos navegável
Tractores matinais limpam o solo arável:
O turismo é cultura que também dá pão.
Margens da jangada são o ouro que resta
em afagos de vento ao tempo estival
acesa está a chama feita Portugal
que arde no meu peito de dor e de festa.
19/08/2010
Mavilde Lobo Costa
imagem tirada da net
A Promessa
Paira no ar a promessa do fruto que vão gerar
Talvez nasça pra Dezembro, quando outro Inverno chegar
E a minha riqueza aumenta, novo ouro, mais fortuna!
Uma neta, outro tesouro, nova história que nos une
Fico feliz nesta ânsia, pois nada mais tem valor
Da árvore que gerou frutos, florescem frutos de amor…
Flor tecida de renda em poema original
Minha estrela, melhor prenda do presépio,
meu Natal!
23/05/2011
Mavilde Lobo Costa
(imagem tirada da net)
Gaivotas do meu País
Gaivotas do meu País
nas asas levam beleza,
dos símbolos da raiz
na Bandeira Portuguesa.
No bico têm a vitória
dum Abril que despertou,
e nas penas a memória
do tempo que já passou…
Da ditadura a cor,
ficou-lhes nas penas negras,
nas brancas têm o vigor
de superar as tristezas.
Mas vivemos como as aves,
as dúbias penas cinzentas;
Abril, foi um golpe d’asa,
neste Cabo das Tormentas…
18/03/07
Mavilde Lobo Costa ´
(In Raízes Douro)
imagem tirada da net
A poesia
A poesia, passeia pela rua vestida de pensamento
Desbrava a intimidade do ser
e pousa conscientemente nos caminhos da solidão
Canta e ri das tropelias da vida
mostra-se em cada gesto,
em cada jeito
e sobrevive em cada virar de esquina
Chega no sopro do vento
reflecte-se no muro alto e cego
edificado nas razões agrestes
É um gerador de vontades e compromissos
residente em todos
e em tudo o que nos rodeia
Dependente apenas
do olhar que nasce
na alma do poeta
12/08/09
Mavilde Lobo Costa
imagem tirada da net
Cheires
Há uma terra no mapa com raízes avoengas
Possui da nobreza a nata com viscondessas e lendas
Foi origem de famílias vetustas , com seus brasões
Casas de reis e fidalgos com armas; condes, barões
Deu origem aos Teixeiras que vivem em Portugal,
Em Celeirós, S.Romão, Sanfins e Vila-Real,
Sabrosa e Alijó, Favaios e Presandães
Tudo começou em Cheires, com Don Teo ou sua mãe
Aos Açores e Cabo-Verde estenderam os seus ramos
De Ormuz até Angola raízes de transmontanos
Em Moçambique e Brasil, impôs-se o nome Teixeira.
Sementes do nosso nome percorrem a Terra inteira.
Mavilde Teixeira Lobo
08/02/2011
Que saudades
Que saudades eu tinha do Cais das Colunas.
Ver o Tejo a passar entre as margens ligado,
o Terreiro do Paço; o Martinho d’Arcada
e o Fernando Pessoa com poemas no olhar
Que saudades eu tinha da cor amarela
a imperar altivez no Terreiro do Paço.
Do espelho das águas, onde D. José
cavalga incessante presenças e mágoas
Já larguei meu barco, soltei-lhe as amarras
aos tapumes preso e muros de paisagem,
Lisboa navega e brinca no cais,
saudando no Tejo a constante viagem
Passadeira vermelha ao povo estendi,
salão de visitas tão cheio de sol
e vejo passar todos por aqui;
nobres do trabalho, no Paço Real.
30/10/2010
Mavilde Lobo Costa
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